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Desenho(s) em Construção
Domingos Rego e Américo Marcelino
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Texto de apresentação da exposição Desenho(s) em Construção, mostra
de trabalhos de alunos da FBAUL graduados em Desenho. Galeria da Junta
de Freguesia de Santa Maria Maior, Lisboa, 2018-2019.
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Richard Serra refere numa entrevista que a arte existe para nos “salvar da banalidade do mundo”; os desenhos aqui apresentados parecem confirmar essa visão. Esta exposição procura dar conta de percursos e formações de alunos que se revelaram no domínio do desenho, sublinhando a ideia de um fazer em contínuo trânsito, sucessão; em construção. Sendo trabalhos de artistas que concluíram há pouco o seu percurso académico, é notória a vontade de transcender o visível, de o transformar, de lhe conferir novos sentidos, interpelando-nos e mostrando-nos modos pessoais de o entender.
Na diversidade de tópicos e abordagens adotados pelos autores, algumas preocupações são recorrentes e traduzem constantes: a renovada e necessária relação com a natureza, como acontece nos trabalhos de Inês Machado Pinto, Inês Mesquita, Joana Galego, Nuno Gonçalves ou Viktorya Kurmayeva; a evocação da memória, como atlas infindável de temas e imagens, posicionamento patente nos trabalhos de Francisca Pinto, Lígia Fernandes, Marco Morgado, Maria Teresa Carreira ou Mariana Teixeira; a experiência do espaço urbano, a velocidade que lhe é associada, e o desenho como forma de desaceleração, inquietação reconhecível nas propostas de Cecília Corujo, Daniel Teixeira, Diogo Elias ou João Távora; o corpo como matriz da relação com os outros e com o mundo, enaltecendo todos os sentidos na interpretação do visível, aspeto patente nas proposições de Bruno Medeiros, Fábio Veras, Mafalda d’Oliveira Martins ou Sara Mealha; a casa e a reinvenção dos lugares, local de reencontro consigo, mas também uma imensa possibilidade de experimentação do espaço, aspetos detetáveis nos desenhos de Manuel Queiró, Neide Carreira ou Nicoleta Sandulescu; ou ainda a constatação de uma pulsão para criações abstratas, incidindo na materialidade e nos processos de construção das obras, nos ritmos e nas geometrias dos suportes, como é o caso das composições de Ana Romãozinho, Sebastião Castelo Lopes ou Simão Martinez. O desenho digital representa, por vezes, a síntese entre o impulso ancestral para desenhar e o fascínio pelas novas tecnologias. Essa dupla condição encontra expressão nos trabalhos de Israel Teixeira, João David Fernandes, Patrícia Cassis ou Ricardo Lima. Da seleção de desenhos dos vinte e oito artistas aqui expostos reconhecemos o cruzamento destas e de outras possíveis leituras, reveladoras de um fértil potencial criativo, extensível de resto aos trabalhos de outros colegas que também terminaram o seu percurso de formação que, por limitações do espaço expositivo, não foi possível mostrar.
O percurso empreendido na Faculdade é importante, mas, inevitavelmente, uma parte limitada do trajeto de qualquer artista. A arte não prescinde do sentido crítico e reflexivo de quem a faz, permanentemente. É uma forma de vida que requer um olhar esclarecido e sensível sobre todos os fenómenos. Estas tarefas e predicados requerem tempo e constituem um compromisso para a vida. Um compromisso em constante construção.
Azeitão, 21/11/2018
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